Meditação de 14 de dezembro

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Maria Santíssima, modelo de paciência

Maria Santíssima, modelo de paciência

Patientia vobis necessaria est: ut volutantem Dei facientes reportetis promissionem – “A paciência vos é necessária, a fim de que fazendo a vontade de Deus alcanceis a promessa” (Hb 10, 36) 

Sumário. Deu-nos Deus a Santíssima Virgem como exemplar de todas as virtudes, mas especialmente da paciência. Semelhante à rosa, ela cresceu e viveu sempre entre os espinhos da tribulação. Se, portanto, quisermos ser filhos desta Mãe, força é que procuremos imitá-la, abraçando com resignação as cruzes; e não somente as que nos vierem diretamente de Deus, mas também as que vierem da parte dos homens, tais como sejam as perseguições e os despresos.

I. Sendo esta terra um lugar de merecimentos, chama-se com razão vale de lágrimas. Todos somos aqui postos para padecer e fazer, por meio da paciência, aquisição das nossas almas para a vida eterna, como já disse o Senhor: In patientia possidebitis animas vestras (1) — “Na paciência possuireis as vossas almas”. Deus nos deu a Virgem Maria para exemplar de todas as virtudes, mas especialmente da paciência. Pondera entre outras coisas São Francisco de Sales, que foi exatamente para este fim que nas bodas de Caná, Jesus Cristo deu à Santíssima Virgem aquela resposta, com que mostrava estimar pouca as suas súplicas: Quid mihi et tibi est, mulier? — “Que há entre mim e ti, mulher?” Foi exatamente para nos dar o exemplo da paciência da sua Santa Mãe.

Mas que andamos excogitando? Toda a vida de Maria foi um exercício continuo de paciência; porquanto, como o Anjo revelou a Santa Brigida, a Bem-aventurada Virgem, semelhante à rosa, cresceu e viveu sempre entre os espinhos das tribulações. Só a compaixão das penas do Redentor foi suficiente para fazê-la mártir de paciência, razão porque disse São Boaventura: Crucifixa Cruxifixum concepit — “A Crucificada concebeu o Crucificado”. — E quanto ela sofreu, tanto na viagem para o Egito e na demora ali, como durante todo o tempo que viveu com o Filho na oficina de Nazaré, não cansemos de apreciá-lo dignamente. Mas deixando o mais de lado, não basta por ventura só a campanha que Maria fez a Jesus moribundo no Calvário, para fazer conhecer quão constante e sublime foi a sua paciência? Stabat iuxta crucem Iesu Mater eius (2) — “Ao pé da cruz de Jesus estava sua Mãe”. No dizer do B. Alberto Magno, precisamente pelo merecimento desta sua paciência foi ela feita nossa Mãe que compadecendo com o seu Filho nos gerou para a vida da graça: Maria facta est mater nostra, quos genuit Filio compatiendo.

II. Se desejamos ser filhos de Maria, é preciso que procuremos imitá-la na paciência, suportando em paz tanto as cruzes que nos vierem diretamente de Deus, isto é, a pobresa, as desconsolações espirituais, a enfermidade e a morte; como também as que nos vierem diretamente da parte dos homens, perseguições, despresos, injúrias e seduções. S. Gregório explicando este trecho de Oséias: Saepiam viam tuam spinis (3) — “Fecharei o teu caminho com espinhos”, diz que assim como a sebe de espinhos guarda a vinha, assim Deus cerca de tribulações os seus servos, para que não se afeiçoem ao mundo. De modo que, conclui São Cipriano, a paciência é a virtude que nos livra do pecado e do inferno, e enriquece-nos com merecimentos na vida presente e com a glória na outra.

É a paciência que faz os Santos, como diz São Tiago: Patientia autem opus perfectum habet, ut sitis perfecti et integri in nullo deficientes (4). Por esta razão, São João viu todos os Santos com palmas (símbolo do martírio) nas mãos (5); o que significa que todos os adultos que se salvam, devem ser mártires, ou de sangue ou de paciência. “Alegremo-nos, pois”, exclama São Gregório: “se sofrermos com paciência as penas desta vida, podemos ser mártires, sem o ferro dos algozes”. Oh, quanto nos aproveitará no céu cada pena sofrida por amor de Deus!

— Se alguma vez o peso da cruz se nos afigurar demasiadamente duro, recorramos a Maria, que é chamada a medicina dos corações angustiados e a consoladora dos aflitos.

Ah! Senhora minha suavíssima! Padecestes inocente com tanta paciência, e eu, réu do inferno, recusarei padecer? Minha Mãe, peço-vos hoje esta graça, não de ficar livre das cruzes, mas de suportá-las com paciência. Por amor de Jesus vos peço, que sem tardar me alcanceis de Deus esta graça; de vós a espero.

Referências:

(1) Lc 21, 19 (2) Jo 19, 25 (3) Os 2, 6 (4) Tg 1, 4

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 38-40)

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