Maria Santíssima conduz os seus servos ao paraíso
Qui me invenerit, inveniet vitam, et hauriet salutem a Domino – “Aquele que me achar, achará a vida, e haverá do Senhor a salvação” (Pv 8, 35)
Sumário. De que serve inquietarmo-nos com as sentenças das escolas sobre a predestinação para a glória? Quem é verdadeiramente servo de Maria está certo de que está escrito no livro da vida e se salvará; porque de todos aqueles que perseveram na sua devoção a esta bem-aventurada Mãe, ninguém se perdeu. Só se condena aquele que não recorre a ela ou deixa de ser seu servo. Procuremos, portanto, entrar sempre mais e permanecer nesta arca da salvação; e cada vez que nos for possível, procuremos, por palavras e exemplos, fazer que outros também ali entrem.
I. Oh! Que belo sinal de predestinação têm os servos de Maria! A santa Igreja aplica a esta bem-aventurada Mãe as palavras da Sabedoria divina e lhe faz dizer: In omnibus requiem quaesivi et in haereditate Domini morabor (1) — “Em toda parte busquei repouso e morarei na herança do Senhor”. A Santíssima Virgem, pelo amor que tem para com os homens, procura fazer que em todos reine a sua devoção. Muitos ou não a recebem, ou não a conservam; porém, bem-aventurado aquele que a recebe e a conserva, porque nesta devoção habita em todos aqueles que são a herança do Senhor, isto é, que irão ao céu louvá-Lo eternamente.
Qui audit me, non confundetur (2) — “Aquele que me ouve, não será confundido”. De todos aqueles que recorreram a esta Rainha de misericórdia, nenhum ficou confundido. A experiência de todos os dias demonstra que aqueles que operam por ela, que a honram, e especialmente aqueles que com palavras e exemplos procuram que outros também a amem, nunca cairão em pecado e viverão eternamente. Numa palavra, diz Maria Santíssima: Aquele que me achar, achará a vida, e haverá do Senhor a salvação. Ao contrário, aquele que de mim se afastar, achará infalivelmente a morte; porque ficará privado daqueles socorros que não se dispensam aos homens senão pelo meu intermédio. — É assim que a santa Igreja, de acordo com todos os Doutores, faz a divina Mãe falar, para conforto dos seus servos. — De que serve, pois, inquietarmo-nos com as sentenças das Escolas, sobre se a predestinação para a glória é anterior ou posterior à previsão dos merecimentos? Se estamos ou não escritos no livro da vida? Se formos verdadeiros servos de Maria, e alcançarmos a sua proteção, seguramente nele havemos de ser inscritos e nos salvaremos.
II. Santa Maria Madalena de Pazzi viu no meio do mar uma pequena nau, em que estavam embarcados todos os devotos de Maria, e ela, fazendo ofício de piloto, seguramente os conduzia ao porto do céu. Procuremos, pois, entrar nesta nau bem aventurada da proteção de Maria, sejamos devotos verdadeiros da Virgem, pois assim estaremos seguros de alcançar o reino do céu.
Não nos contentemos com amar, só por nós, esta Senhora amabilíssima; mas sempre que nos for possível, em público ou em particular, esforcemo-nos para que ela seja também amada dos outros. Fazendo isso, exerceremos um apostolado muito frutuoso, pois que todos aqueles que por nosso intermédio abraçarem a devoção para com Maria Santíssima, serão depois os nossos eternos companheiros no céu.
Ó Rainha do paraíso, que assenta acima de todos os coros angélicos, ocupais o primeiro lugar junto do trono de Deus! Do fundo deste vale de lágrimas, eu, miserável pecador, vos saúdo, e peço vos digneis volver para mim vossos olhos cheios de misericórdia. Vêde, ó Maria, em que perigos me acho e acharei enquanto viver nesta terra, de perder minha alma, o paraíso e meu Deus. Em vós, ó minha Rainha, hei posto todas as minhas esperanças. Amo-vos, e suspiro pelo momento de vos ir ver e louvar no paraíso. Ah, Maria! Quando chegará o dia em que me verei já salvo aos vossos pés? Quando beijarei essas mãos que me dispensaram tantas graças?
É verdade, ó minha Mãe, que muito ingrato vos tenho sido durante a minha vida; mas se chego ao paraíso, lá vos amarei a cada instante durante toda a eternidade, e repararei a minha ingratidão passada por bênçãos e ações de graças sem fim. A Deus agradeço por me dar esta confiança no sangue de Jesus Cristo e na vossa poderosa intercessão. Assim esperam os vossos verdadeiros servos e nenhum foi frustrado na sua esperança. Também eu não o serei.
— Ó Maria, suplicai a Jesus, vosso divino Filho, — assim como eu também o faço pelos merecimentos da sua Paixão, — que confirme e aumente sempre mais em mim estas esperanças. Amém.
Referências:
(1) Eclo 24, 11 (2) Eclo 24, 30
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 331-334)
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