1º Dia da Novena de Natal – Jesus Menino consente em ser nosso Redentor

1º Dia da Novena de Natal – Jesus Menino consente em ser nosso Redentor

1º Dia da Novena de Natal – Jesus Menino consente em ser nosso Redentor

Jesus Menino consente em ser nosso Redentor

Dedi te in lucem gentium, ut sis salus mea usqye ad extremum terrae – Eu te estabeleci para luz das gentes, afim de levares a minha salvação até à última extremidade da terra (Is 49, 6)

Sumário. Muitos cristãos costumam neste tempo armar um presépio como representação do Nascimento de Jesus Cristo; mas bem poucos lembram de preparar, com atos de amor, o seu coração afim de que o divino Menino nele possa repousar. Do número destes também nós queremos ser. Por isso, afim de excitar-nos, desde o primeiro dia da Novena, a pagar com nosso amor o amor de Jesus Cristo, consideremos o amor que nos mostrou, incumbindo-se, desde o primeiro instante da sua conceição, de satisfazer por nós à divina justiça.

I. Considera como o Pai Eterno disse a Jesus Menino, no instante da sua Encarnação, estas palavras: Dedi te in lucem gentium, ut sis salus mea (1) – Eu te estabeleci para luz das gentes, afim de salvá-las. Meu Filho, eu te dei ao mundo para luz e vida das nações, afim de que lhes alcances a salvação, que eu estimo tanto como se fosse a minha própria. Mister é, pois, que te consumas todo inteiro, para o bem dos homens – Totus illi datus, totus in suos usus impenderis (2). Mister é que desde o nascer sofras extrema pobreza, afim de que o homem se faça rico. Mister é que sejas vendido como um escravo, para impetrares ao homem a sua liberdade; que, como um escravo, sejas açoitado e crucificado, afim de pagares à minha justiça o que o homem lhe deve; mister é que dês o teu sangue e a tua vida, afim de livrares o homem da morte eterna. Em uma palavra, sabe que não te pertences mais a ti mesmo, senão aos homens. Assim, meu dileto Filho, o homem render-se-á ao meu amor; será todo meu, vendo que eu lhe dei o meu Unigênito, sem reserva alguma, e que nada mais me resta para lhe dar. Sic Deus dilexit mundum, ut Filium suum unigenitum daret (3) Ó amor infinito, digno unicamente de um Deus infinito!

A semelhante proposta Jesus Menino não se entristece; antes, nela se compraz, aceita-a com amor e exulta: Exultavit ul gigas ad currendam viam (4) – Deu passos como gigante para correr o caminho. Desde o primeiro instante da sua Encarnação, Jesus se dá todo ao homem, e abraça com alegria todas as dores e ignomínias que na terra teria de sofrer pro amor dos homens.

Pondera aqui o Pai celestial, mandando seu Filho para ser nosso Redentor e medianeiro entre Deus e os homens, se obrigou, por assim dizer, a perdoar-nos e a amar-nos, visto que prometeu receber-nos em sua graça, contanto que o Filho satisfizesse por nós à Justiça Divina. Por outra parte o Verbo Divino, tendo aceitado a incumbência do Pai, que no-lo deu enviando-o para nossa redenção, obrigou-se também a amar-nos, não em vista de nossos merecimentos, mas para obedecer à vontade misericordiosa do Pai.

II. Meu amado Jesus, se é verdade, conforme reza a lei, que a doação faz adquirir o domínio, Vós sois meu, visto que vosso Pai Vos deu a mim; por mim é que nascestes, a mim é que fostes dado. Posso dizer, pois, com verdade: Iesus meus et omnia – Meu Jesus e meu tudo! Já que sois meu, é meu também tudo quanto é vosso. Assim m’o garante o vosso Apóstolo: Quomodo non etiam cum illo omnia nobis donavit? (5) – Como não nos deu também com ele todas as coisas? É meu o vosso sangue, são, meus os vossos merecimentos, são minhas as vossas graças, é meu o vosso paraíso. Se sois meu, quem jamais poderá separar-me de Vós? Assim dizia jubiloso Santo Antão Abade. Assim também quero dizer para o futuro. Somente por culpa minha posso perder-Vos e separar-me de Vós. Mas, ó meu Jesus, se antigamente Vos deixei e perdi, agora pesa-me de toda a minha alma e estou resolvido a antes perder a vida e tudo, do que a perder-Vos, ó Bem infinito e único Amor da minha alma.

Graças Vos dou, Pai Eterno, por me haverdes dado vosso Filho, me dou todo a Vós. Por amor desse mesmo Filho, aceita-me e prendei-me com laços de amor ao meu Redentor; mas prendei-me de tal maneira que eu também possa dizer: Quis me separabit a caritate Christi? (6) – Quem me separará do amor de Cristo? Que bem terrestre será ainda capaz de separar-me do meu Jesus? E Vós, meu Salvador, se sois todo meu, sabei que eu também sou todo vosso. Disponde de mim, e de tudo o que é meu, como quiserdes. Será possível que eu recuse alguma coisa a um Deus que não me recusou seu sangue e sua vida?

Maria, minha Mãe, guardai-me debaixo da vossa proteção. Não quero mais ser meu, quero ser todo do meu Senhor. Cuidai em fazer-me fiel; em vós confio.

Referências: (1) Is 49, 6 (2) São Bernardo (3) Jo 3, 16 (4) Sl 18, 6 (5) Rm 8, 32 (6) Rm 8, 35

OBS: Santo Afonso indulgenciou esta Novena da seguinte forma: para cada dia da Novena, recebemos Indulgência de 300 dias. Para o dia do Natal ou num dia da Oitava, recebemos Indulgência Plenária se fizermos e cumprirmos as obras prescritas da Confissão e da Comunhão.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 55-58)

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