Festa de São Caetano
Quaerite primum regnum Dei et iustitiam eius; et haec omnia adicientur vobis — “Buscai primeiramente o reino de Deus e a sua justiça; e todas estas coisas se vos acrescentarão” (Mt 6, 33)
Sumário. Posto que este santo fosse heroico em todas as virtudes, a virtude nele característica foi a sua inalterável confiança em Deus, entregando a sua pessoa e a Ordem por ele fundada inteiramente à divina Providência. À imitação do santo, expulsemos de nosso coração a solicitude pelos bens temporais e busquemos primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça; estejamos certos de que o Pai celestial proverá a todas a nossas necessidades. Quando jamais se ouviu dizer que alguém tivesse posto a sua confiança no Senhor e ficasse confundido?
I. Considera as belas virtudes que adornaram a vida deste grande santo. Teve ele a ventura de receber uma educação verdadeiramente cristã, particularmente pelos cuidados da mãe, que consagrou seu filho recém-nascido à Bem-aventurada Virgem e depois lhe lembrou reiteradamente a obrigação de a imitar. E o menino correspondeu tão bem a estas lições salutares, que durante toda a vida ficou devotíssimo de Maria Santíssima, e desde então o seu único divertimento era entregar-se a exercícios de sólida piedade. Feito moço, desprezando as vaidades do mundo, abraçou o estado eclesiástico, no qual fez tão grandes progressos na virtude, que o Sumo Pontífice o chamou à sua corte, onde viveu em grande humildade e conservou intacta a açucena da pureza virginal.
Com que sentimentos recebeu Caetano a dignidade sacerdotal, com que humildade celebrava o sacrifício divino, pode-se deduzir do que ele escreveu a uma religiosa sua parenta:
“Eu, verme miserável, eu lodo da terra, atrevo-me, entre legiões de anjos, a tocar com as minhas mãos no Criador do mundo… Ó suprema cegueira minha! Cada dia recebo aquele que diz: Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e não deponho o meu orgulho. … Arde nas minhas mãos e nos meus lábios aquele fogo divino que diz: Eu vim abrasar a terra, e, todavia, meu peito fica frio como o gelo”
Era tão fervoroso Caetano no espírito de oração, que orava quase continuamente. Pelo que, na noite do Natal, enquanto estava na capela do Presépio em Santa Maria Maior de Roma, mereceu, numa visão celeste, receber das mãos da Santíssima Virgem o Menino Jesus. Rejubilando- te com o santo, compara a tua vida com a sua, põe as tuas virtudes em confronto com as do santo, e propõe emendar-te nos pontos em que faltaste.
II. Considera as outras virtudes que ornaram a vida de São Caetano. Distinguiu-se no desapego das dignidades e dos bens terrestres, porque resignou a prelatura, as comodidades e o ofício lucrativo da corte romana, para abraçar uma vida humilde, pobre e penitente. Distinguiu-se na caridade para com o próximo, porque à sua própria custa fundou hospitais e socorria toda espécie de necessitados. Distinguiu-se no zelo apostólico, pois converteu tão grande número de pecadores, que foi cognominado caçador de almas. Distinguiu-se, por fim, na paciência, sofrendo com admirável tranquilidade de alma as perseguições, as brutalidades, os maus tratos e os cárceres.
A virtude característica, porém, deste santo foi a sua inalterável confiança em Deus; foi ela que o moveu a fundar uma Ordem, que não só não teria bens nem rendimentos, mas proibia mesmo a mendicância, obrigando assim os religiosos ao abandono à divina Providência. Regozija-te novamente com o santo, examina-te mais uma vez e mira-te na sua vida. Vê se não cuidas demasiado das coisas temporais, e lembra-te do que diz Jesus Cristo no Evangelho de hoje:
“Não vos aflijais, dizendo: Que comeremos, que beberemos, ou com que nos cobriremos? Porque os gentios é que põem as vistas sobre todas estas coisas. Vosso Pai sabe que precisais de todas elas. Buscai, pois, primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça: e todas estas coisas se vos acrescentarão”
A fim de que tenhas força para imitar a São Caetano, recomenda-te a Deus pelos próprios merecimentos do santo.
“Ó Deus, que concedestes a São Caetano a graça de imitar a vida dos apóstolos, concedei-me propício que, à imitação e exemplo do santo, ponha eu sempre em Vós as minhas esperanças e suspire tão somente pelos bens celestiais” (1). Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo, vosso divino Filho, e de Maria Santíssima, minha amada Mãe.
Referência: (1) Or. festi.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 345-347)
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