Exemplos que nos dá Jesus Menino
Erunt oculi tui videntes praeceptorem tuum – “Os teus olhos estarão vendo o teu mestre” (Is 30, 20)
Sumário. Quantos belos exemplos nos dá Jesus Cristo durante todo o tempo da sua infância! Exemplos de submissão à vontade divina, de pobreza, de humildade, de mansidão, de obediência; exemplos de mortificação, de amor à cruz, de recolhimento e de oração; uma palavra, exemplos de todas as mais belas virtudes. Esforcemo-nos por imitá-Lo, custe o que custar e imaginemos que lá de cima, da Gruta de Belém, o Pai Eterno nos diz: Se não vos fizerdes semelhantes a este meu amado Filho, feito menino por vosso amor, não entrareis no reino dos céus.
I. Tendo o Pai Eterno decretado que o Verbo divino se fizesse homem para operar a nossa Redenção, podia Jesus Cristo tomar um corpo glorioso, ou de homem perfeito, como Adão, sem que ficasse sujeito a todas as fraquezas e misérias próprias da infância. Não obstante isso, para nosso ensinamento e maior proveito, quis nascer criança como nós, a fim de que, vendo-O em tudo nosso semelhante, nos sintamos com mais estímulo de imitá-Lo e fazer-nos semelhantes a Ele.
Oh! Que exemplos tão numerosos de virtudes nos deu o divino Menino durante toda a sua infância, se quisermos aproveitá-los! Exemplos de amor para com seu Pai e de submissão à vontade divina. Vede, como Jesus, apenas nascido e, conforme diz o Apóstolo, no seu primeiro ingresso no mundo, inclina humildemente a cabeça, adora respeitosamente a Deus Pai e protesta que está pronto a fazer-Lhe em tudo a santíssima vontade: Ecce venio, ut faciam, Deus, voluntatem tuam (1) — “Eis que venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade”. — Exemplos de pobreza e de castidade: escolhendo para mãe uma virgem; para guarda, um homem castíssimo; para sua corte, uns pastores inocentes. Quer que tudo ao redor d’Ele seja indigência e miséria: Propter vos egemus factus est (2) — “Para vós Ele se fez pobre”. — Exemplos de mansidão, de humildade e de obediência. Podia castigar instantaneamente ao ímpio Herodes, que o persegue à morte, mas demora o castigo, e entretanto subtrai-se à sanha do rei por meio de uma fuga humilhante para o Egito, onde vive obediente a qualquer aceno de José e Maria: Et erat subditus illis (3) — “E estava-lhes sujeito”.
Finalmente Jesus nos dá exemplos de mortificação, de abnegação própria, de amor de cruz, e sobretudo de recolhimento e de oração. Passa todos os seus dias nas mais duras privações e santifica o trabalho pelo silêncio e pela oração. De sorte que desde então se Lhe pode aplicar o que depois disse o Evangelista: Erat pernoctans in oratione (4) — “Passava as noites em oração”. Felizes de nós se soubermos imitar os exemplos do santo Menino Jesus!
II. Imaginemos que Deus Pai lá de cima da Gruta de Belém nos diz o que Jesus Cristo mesmo disse mais tarde a seus discípulos: Nisi efficiamini sicut parvulus iste, non intrabitis in regnum coelorum (5) — “Se não vos fizerdes como este menino, não entrarei no reino dos céus”. Se não vos fizerdes semelhantes a este meu Filho, feito criança por vosso amor, não entrareis no reino dos céus.
Examinemos, pois, a nossa consciência, e se infelizmente acharmos que nos tempos passados pouco ou nada temos imitado os exemplos do santo Menino, tomemos uma resolução firme de fazê-lo ao menos para o futuro.
“Ó dulcíssimo Jesus, como estou envergonhado de me ver tão diferente de Vós! Mas já que acolheis os maiores pecadores, quando se convertem, fazei que de hoje em diante não seja mais assim. Dai-me, ó Senhor, assim como fizestes para com todos os pecadores arrependidos, um coração semelhante ao vosso. Dai-me um coração humilde, amante da vida oculta e desprezada, ainda no meio das honras terrestres; um coração paciente, resignado em todas as contrariedades, por mais penosas que sejam; um coração pacífico, que guarde sempre uma inalterável paz com o próximo e consigo mesmo. Dai-me um coração amante da oração, que goste de entregar-se frequentemente a este santo exercício; e tenha só um desejo, o de ver Deus conhecido, amado e louvado de todas as criaturas; um coração no qual nada desagrade, senão ver Deus ofendido; que nada odeie senão o pecado; que não tenha outro desejo no mundo senão o de promover a glória de Deus e a salvação do próximo. Dai-me um coração reconhecido, que nunca se esqueça dos benefícios divinos e saiba sempre estimá-los devidamente; um coração forte e corajoso, que não tenha medo de mal algum e suporte tudo por amor do seu Deus; um coração benéfico para com todos os necessitados e cheio de compaixão das almas do purgatório; finalmente um coração perfeitamente regrado, cujas alegrias e tristezas, repugnâncias e desejos, movimentos e aspirações sejam todas conformes com a vontade divina. Numa palavra, dai-me, ó meu Jesus, um coração todo semelhante ao vosso. Fazei-o pelo amor de vossa e minha querida Mãe Maria santíssima.”(6)
Referências: (1) Hb 10, 9 (2) 2 Cor 8, 9 (3) Lc 2, 51 (4) Lc 6, 12 (5) Mt 18, 3 (6) Oração de São Clemente Maria Hoffbauer, C. SS. R.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 146-148)
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