Alegria trazida ao mundo pelo nascimento de Jesus Cristo

Alegria trazida ao mundo pelo nascimento de Jesus Cristo

Alegria trazida ao mundo pelo nascimento de Jesus Cristo

Evangelizo vobis gaudium magnum, quod erit omni populo: quia natus est vobis hodie Salvator – “Anuncio-vos um grande gozo, que será para todo o povo; e é que vos nasceu hoje o Salvador” (Lc 2, 10)

Sumário. Organizam-se grandes festejos num país, quando ao rei nasce seu filho primogênito. Quanto mais não devemos nós festejar o nascimento do Filho unigênito de Deus, que veio do céu para nos visitar. Talvez alguém deseje carregar o Menino Jesus nos braços; mas avivemos a nossa fé e lembremo-nos de que na santa comunhão recebemos, não somente em nossos braços, mas também dentro do nosso peito, o mesmo Jesus, que por nosso amor esteve deitado no presépio de Belém.

I. O nascimento de Jesus Cristo trouxe alegria geral ao mundo inteiro. É Ele o Redentor desejado durante tantos anos e com tamanho ardor, que por esta razão foi chamado o Desejado das gentes, o Desejado das colinas eternas. Eis que já veio, nascido numa gruta estreita. Façamos que o anjo nos anuncie o mesmo gozo que anunciou aos pastores, e que nos diga: Ecce enim evangelizo vobis gaudium magnum, quod erit omni populo: quia natus est vobis hodie Salvator — “Anuncio-vos um grande gozo, que será para todo o povo; e é que vos nasceu hoje o Salvador”. — Que festejos não se organizam num país, quando nasce ao rei seu filho primogênito! Muito mais devemos nós festejar o nascimento do Filho de Deus, que veio do céu para nos visitar, movido unicamente pelas entranhas da sua misericórdia: per víscera misericordiae Dei nostri, in quibus visitavit nos oriens ex alto (1).

Nós nos achávamos em estado de condenação, e eis que Jesus veio para nos salvar: Propter nostram salutem descendit de coelis — “Desceu dos céus para a nossa salvação”. Eis aí o Pastor, vindo para salvar da morte as suas ovelhas, dando a vida por amor delas. — Ego sum pastor bonus; bonus pastor animam suam dat pro ovibus suis (2) — “Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a própria vida pelas suas ovelhas”. Eis aí o Cordeiro de Deus que veio sacrificar-se para nos obter a graça divina e fazer-se nosso libertador, nossa vida, nossa luz, e nosso alimento no Santíssimo Sacramento. Diz Santo Agostinho que, entre outras razões, Jesus quis ser posto numa manjedoura, onde os animais acham o pasto, para nos dar a entender que se fez homem também para se tornar nosso alimento.

Jesus nasce, por assim dizer, nasce cada dia no Santíssimo Sacramento por meio da consagração feita pelo sacerdote. O altar é como que o presépio, onde nos alimentamos com a sua própria carne. Talvez alguém deseje trazer o Menino Jesus nos braços, assim como o trouxe o velho Simeão. Mas a fé nos ensina que na santa comunhão temos, não somente em nossos braços, senão dentro do nosso peito, o mesmo Jesus, que esteve no presépio de Belém. Nasceu precisamente a fim de se dar a nós: Parvulus natus est nobis, et filius datus est nobis (3) — “Nasceu-nos uma criança, e foi-nos dado um filho”.

II. Erravi sicut ovis quae periit: quaere servum tuum (4) — “Andei errando como uma ovelha que se desgarrou; busca o teu servo”. Senhor, eu sou a ovelha que por ir atrás das minhas satisfações e dos meus caprichos, desgarrei miseravelmente; mas Vós, ó Pastor e também Cordeiro divino, baixastes do céu para me salvar, sacrificando-Vos como vítima, sobre a Cruz, em satisfação dos meus pecados. Que devo, pois, temer, se resolvo emendar-me? Não devo confiar inteiramente em Vós, meu Salvador, que nascestes precisamente a fim de me salvar? Ecce Deus, Salvator meus, fiducialiter agam, et non timebo (5) — “Eis aqui está Deus, meu Salvador, resolutamente obrarei e nada temerei”. Para me inspirar confiança, que penhor mais seguro de misericórdia podereis dar-me, depois da vossa própria pessoa? Ó meu querido Menino Jesus, quanto me aflige a lembrança de Vos ter ofendido. Tenho-Vos feito chorar na gruta de Belém. Mas, se Vós me viestes buscar, eis que me prostro aos vossos pés,’ e apesar de Vos ver humilhado e aniquilado nessa manjedoura, deitado sobre a palha, reconheço-Vos como meu supremo Senhor e Rei.

Ouço que os vossos doces gemidos me convidam a amar-Vos e me pedem o coração. Ei-lo, ó meu Jesus, deposito-o a vossos pés; transformai-o e abrasai-o, Vós que viestes ao mundo a fim de abrasar os corações em vosso santo amor. Ouço que lá de dentro dessa manjedoura me dizeis: Diliges Dominum Deum tuum ex toto corde tuo (6) — “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração.” E eu Vos digo: Ah! Jesus meu, se não Vos amar a Vós, que sois meu Senhor e meu Deus, a quem amarei? Vós dizeis que sois meu, porque nascestes a fim de Vos dar todo a mim; e eu recusarei ser vosso? Não, meu amado Senhor, dou-me todo inteiro a Vós e amo-Vos de todo o meu coração. Amo-Vos, amo-Vos, amo-Vos, ó meu Bem supremo, ó amor único da minha alma. Por favor, aceitai-me neste dia, e não permitais que eu ainda deixe de Vos amar.

Ó Maria, minha Rainha, pela consolação que tivestes, quando pela primeira vez contemplastes o vosso Filho nascido, e lhe destes os primeiros abraços, rogai por mim para que vosso Filho me aceite como propriedade sua e me prenda para sempre a si pelos laços do seu santo amor.

Referências: (1) Lc 1, 78 (2) Jo 10, 11 (3) Is 9, 6 (4) Sl 118, 176 (5) Is 12, 2 (6) Mt 22, 37

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 96-99)

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