A nossa perfeição consiste na conformidade com a vontade divina

A nossa perfeição consiste na conformidade com a vontade divina

A nossa perfeição consiste na conformidade com a vontade divina

Haec est enim voluntas Dei: sanctificatio vestra – “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1 Ts 4, 3)

Sumário. Estejamos persuadidos de que um ato de plena e perfeita conformidade com a vontade de Deus basta para fazer um santo; pois, o que dá a Deus a vontade própria, lhe dá o que tem de melhor, e pode na verdade dizer: Senhor, nada mais tenho para Vos dar. Seja este, portanto, o alvo de todos os nossos desejos, obras e orações, conformarmo-nos com a vontade divina e fazermo-la assim como é feita no céu. Ofereçamo-nos frequentemente a Deus no correr do dia, dizendo: Senhor, não permitais que Vos ofenda, fazei com que Vos ame sempre e depois disponde de mim segundo a vossa vontade.

I. Oh! Quanto merecimento tem um ato de perfeita conformidade com a vontade divina! Basta para formar um santo. Quando São Paulo perseguia a Igreja, apareceu-lhe Jesus, iluminou-o e converteu-o. Que fez, então, o Santo? Outra coisa não fez senão oferecer a sua vontade a Deus, para que dele fizesse o que fosse da sua santa vontade. Disse-lhe: Domine, quid me vis facere? (1) – “Senhor, que quereis que eu faça?” E eis que Jesus Cristo o proclama logo vaso de eleição e apóstolo das nações. – Com razão, pois o que dá a Deus a vontade própria, lhe dá tudo quanto possui. Pelo que em verdade pode dizer: Senhor, já que Vos dei a minha vontade, nada mais tenho para dar. O que Deus pede de nós é exatamente o nosso coração, isto é, a nossa vontade: Praebe, fili mi, cor tuum mihi (2) – “Meu filho, dá-me teu coração”. Enquanto não dermos a Deus a nossa vontade, todas as nossas obras, por santas que se nos afigurem, não lhe serão agradáveis. – O povo d’Israel queixou-se ao Senhor, dizendo: Porque jejuamos nós e não fizeste caso? Humilhamos as nossas almas e fizeste como se o ignorasses? Deus, porém, ensina-nos pelo profeta Isaías, que a razão disso era que, a par das penitências exteriores, eles não sacrificavam igualmente a sua vontade: In die ieiunii vestri invenitur voluntas vestra (3).

Eis porque a conformidade à vontade de Deus foi o único fim e desejo de todos os santos. Davi protestava sempre estar pronto a executar o que Deus desejava: Paratum cor meum, Deus, paratum cor meum (4) – “Meu coração está pronto, ó Deus, meu coração está pronto”. Santa Maria Madalena de Pazzi ficou arrebatada em êxtase ao ouvir as palavras: vontade de Deus. Santa Teresa oferecia-se pelo menos cinquenta vezes por dia a Deus, para que dela dispusesse segundo a sua vontade. E o Bem-aventurado Henrique Suzo dizia:

“Por vontade de Deus, antes quisera ser o mais miserável verme da terra do que serafim por minha própria vontade.”

II. Eis qual deve ser o alvo de todos os nossos desejos, das nossas devoções, meditações e comunhões: conformarmos a nossa vontade com a divina e cumprimo-la assim como a fazem os anjos e santos no céu. Este deve ser também o objeto de todas as nossas súplicas: obtermos a graça de executar o que Deus nos pede; e para isso devemos reclamar a intercessão dos nossos santos Padroeiros e especialmente de Maria Santíssima. Doce me facere voluntatem tuam (5) – “Ensina-me a fazer a tua vontade”.

“Estejamos certos”, nos diz Santa Teresa, “que no cumprimento da vontade de Deus consiste a mais elevada perfeição: o que mais sobressair nesta prática, receberá de Deus maiores dons e fará mais progressos na vida interior.” Fazendo assim, seremos nós também homens segundo o Coração de Deus, como o Senhor fez o elogio de Davi exatamente por estar este disposto a fazer todas as suas vontades: Inveni virum secundum cor meum, qui faciet omnes voluntates meas (6).

Ó meu Deus, toda a minha desgraça no passado foi de não me querer sujeitar à vossa santa vontade. Detesto e amaldiçôo mil vezes os dias e momentos em que, para seguir a minha vontade, contrariei a vossa, ó Deus de minha alma. Eu Vô-la consagro hoje sem reserva; recebei-a, ó meu Senhor, e ligai-me de tal modo ao vosso amor, que nunca mais me possa revoltar contra Vós. Amo-Vos, bondade infinita e pelo amor que Vos tenho, me ofereço todo a Vós. Disponde de mim e do que é meu, como Vos aprouver; resigno-me em tudo à vossa santa vontade. Preservai-me da desgraça de agir contra a vossa vontade e fazei de mim segundo o vosso desejo. Pai Eterno, atendei-me pelo amor de Jesus Cristo. Meu Jesus, atendei-me pelos merecimentos da vossa Paixão. – E vós, Maria Santíssima, ajudai-me; impetrai-me a graça de executar a divina vontade, na qual consiste a minha salvação e nada mais vos peço.

Referências:

(1) At 9, 6 (2) Pv 23, 26 (3) Is 58, 3 (4) Sl 56, 8 (5) Sl 142, 10 (6) At 13, 22

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 43-45)

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