Razão da profunda impossibilidade do sacerdócio de mulheres
A razão profunda pela qual a mulher não pode virar sacerdote se acha na ordem da Criação [315].
A relação entre homem e mulher reflete, com efeito, a ordem da Criação. O homem é o símbolo de Deus, e a mulher, o da Criação. Por conseguinte, a mulher, por sua natureza, não é capaz de ser o representante autorizado de Deus.
Uma tal posição não é discriminatória para com as mulheres?
Não se trata de colocar princípios a priori (de discriminação ou de não-discriminação); mas de observar a realidade tal como é, e de agir de modo conforme ao real.
Só uma atitude ideologizada recusa ver a diferença que existe entre os sexos.
Em que essas diferenças entre o homem e a mulher interessam para o culto divino?
Para quem tem um olhar sem a priori, é claro que o homem tem uma índole mais ativa, produtora e realizadora. É a ele que cabe agir sobre o mundo e transformá-lo. Também é a ele que cabe o papel de governar e de dirigir a sociedade.
A mulher, ao contrário, tem uma índole, que é mais passiva e receptora. Seu domínio é, antes de tudo, o círculo restrito da família e dos filhos.
O seu papel é mais o de ser dirigida do que o de dirigir. É por isso que São Paulo diz: “O homem é a cabeça da mulher” (Ef 5, 23). É também por essa razão que Deus, na Sagrada Escritura, é representado com os traços de um homem.
Deus transcende a distinção de sexos: não é, em Si, nem masculino, nem feminino. Não poderia ser representado também com a figura de uma mulher?
De fato, na Sagrada Escritura, Deus é representado com traços masculinos. É Pai e Esposo do Povo escolhido. É opor-se à Revelação, e, é parodiar o Evangelho, de forma blasfematória, rezar “Mãe Nossa”, como se faz em alguns lugares.
Todas as religiões que creem em um Deus Criador fazem, Dele, uma imagem masculina, ao menos a que concerne ao deus principal.
As divindades femininas se encontram, ao contrário, nas religiões panteístas, que não fazem nenhuma diferença entre Deus e o mundo. Não é um acaso se, ao encarnar-Se, Deus Se fez homem, e não mulher.
O fato de que Jesus Cristo seja um homem implica que os sacerdotes devam ser homens?
Desde o pecado de Adão – que, enquanto chefe de toda a humanidade, levou-a consigo, toda inteira, em sua queda – Jesus Cristo é o único Mediador entre Deus e os homens, o único Pontífice, o único Sumo Sacerdote.
Os sacerdotes do Novo Testamento apenas são instrumentos que Ele escolheu para Si, para continuar a Sua obra, que fez participarem de Seu Sacerdócio.
Do fato, então, de que o Verbo de Deus, para ser o “novo Adão”, encarnou-Se em uma natureza masculina, somente um homem pode participar de Seu Sacerdócio.
O que revelam as reivindicações atuais de ordenação de mulheres?
As polêmicas em torno da ordenação de mulheres manifestam a falsa ideia do sacerdócio, que hoje predomina. Se somente se vê no sacerdote um animador social presidente de assembléias locais do Povo de Deus, que consola os aflitos e entretém o sentimento religioso dos fiéis, não se vê bem, porque uma mulher não poderia preencher essa função.
Mas um sacerdote é alguém completamente diferente: um alter Christus (um outro Cristo) [316].
Não se pode acusar a Igreja de manter a mulher num estado de inferioridade?
A mulher era mantida num estado de inferioridade no paganismo. É ainda o caso, hoje, no judaísmo e no islã.
O Cristianismo, ao contrário, devolveu a nobreza à mulher: ela goza da mesma dignidade que o homem, de quem ela é – especialmente no matrimônio – a companheira, e não a serviçal.
Mas isso não exclui que ela seja diferente dele e que tenha outros ofícios a cumprir.
Não se disse que o homem simboliza o Criador e a mulher, a Criação?
Trata-se aqui, como a palavra indica, de um simples símbolo. Em sua natureza, o homem é tão criatura quanto a mulher, e deve, pois, assim como ela, aprender a obediência e a submissão.
Como a Igreja devolveu à mulher a sua dignidade?
A Igreja Católica honra a mulher, sem medida, na pessoa de Maria, Virgem e Mãe de Deus!!! A Igreja a venera como Rainha de todos os Santos, elevada acima de toda criatura, Apóstolos, Bispos, Papas e mesmo anjos de toda natureza.
A honra rendida a Maria, naturalmente, recai sobre todas as mulheres – na medida em que elas se assemelhem a Maria.
O que se pode destacar sobre o tópico da honra tributada à Santíssima Virgem?
O principal título de glória de Maria, aquele que lhe permite ser honrada acima de toda criatura, é especificamente feminino: ela é Mãe de Deus (e, depois, Mãe de todos os homens, enquanto estes são chamados a se incorporarem a Seu Filho Jesus Cristo).
Diferentemente das “feministas”, a Igreja exalta a mulher na linha de sua especificidade feminina, e não negando a esta. Por outro lado, Maria não é sacerdotisa.
O Papa Inocêncio III escreveu, sobre o assunto, ao Bispo de Burgos:
“Apesar de a Virgem Maria ser superior a todos os Apóstolos tomados em conjunto; não foi a ela; mas a eles, que o Senhor confiou as chaves do Reino dos Céus.” [317]
O que se pode dizer do feminismo contemporâneo?
Na sua pretensa “emancipação da mulher”, o feminismo contemporâneo manifesta, na realidade, o maior desprezo pela mulher, já que deseja conformá-la ao modelo masculino, em vez de desenvolver os valores propriamente femininos. De fato, a mulher se encontra, então, em desvantagem: uma mulher será, sempre mal, um homem!!!
Notas:
[315] Sobre a exegese católica dos três primeiros capítulos do Gênesis, consultar a resposta da Pontifícia Comissão Bíblica, de 30 de junho de 1909, Dz. 2121-2128. [nota da tradução brasileira].
[316] Obviamente, não se trata aqui de atribuir natureza divina, nem impecabilidade, aos sacerdotes, pois são simples criaturas, indelevelmente marcados, em sua alma, pelo caráter do Sacramento da Ordem. A nomenclatura tradicional de alter Christus quer aludir ao seu papel como sacrificadores, na renovação do Sacrifício da Cruz, cujo Sacerdote é Cristo. Assim, no Sacrifício da Missa, o sacerdote, que empresta a sua voz masculina a Nosso Senhor, notadamente no momento da Consagração, como Seu instrumento, age, pois, in persona Christi – na pessoa de Cristo – para renovar o Sacrifício da Cruz. Neste sentido, é que se diz que é como que um alter Christus (um outro Cristo). Essa expressão quer aludir também um dever ser para o padre: o de que, por sua conduta, seja um imitador de Nosso Senhor e afervore a piedade do povo, pelos seus atos e pelo exemplo de santidade, mais do que por palavras. A crise atual na Igreja pode ser verificada, justamente, no fato de a maioria dos clérigos contemporâneos trair, por seus atos escandalosos, a Nosso Senhor. [nota da tradução brasileira]
[317] Decretalis Nova quaedam, X.
Catecismo Católico da Crise na Igreja. Pe. Mathias Gaudron.
Notas da imagem:
Sínodo da Amazônia, pretexto para promover a primeira etapa da ordenação de mulheres, seguindo os passos da Igreja Anglicana.
É curiosa a situação do pontificado do Papa Francisco. Sendo o mais liberal de todos os papas pós Vaticano II, Francisco parece querer levar o liberalismo do Concílio ao seu grau máximo. Tanto por suas frases de efeito como pela prática de aceitar e elogiar pecadores públicos, e mesmo pelas liberdades que deu à Fraternidade São Pio X, Francisco parece não ter medida no seu plano de abrir tudo a todos.
Poderíamos denunciar os erros doutrinários e morais contidos em seus pronunciamentos ou em seus documentos, mas estamos diante de uma situação nova, ao vermos cardeais e bispos do clero oficial atacarem o papa com acusações por vezes mais salgadas e agressivas do que tudo o que a Fraternidade São Pio X já publicou contra os papas do Vaticano II.
Pela primeira vez em 50 anos vemos textos, conferências, livros sendo publicados contra os excessos doutrinários do atual papa. Poderíamos pensar que essa situação é altamente favorável à Tradição, pois poderia significar uma aproximação desses bispos da Tradição, mas a realidade é outra.
Qual é o objeto da reclamação dos bispos contra o papa?
O que eles pretendem é que Francisco se mantenha nos termos estipulados pelo Concílio Vaticano II, o que é inadmissível para nós, pois são esses textos do Concílio que se afastaram da fé católica a ponto de não se encontrar mais, no mundo atual, quem de fato creia em tudo o que Deus nos revelou e nos ensina a Igreja.
Um exemplo claro disso foi o embate entre conservadores e liberais durante os dois anos do Sínodo sobre a família. O texto inicial pedia a comunhão de divorciados e homossexuais, e logo os conservadores se levantaram clamando pelo que eles chamavam de “doutrina tradicional”. Ora, Vaticano II inverteu os fins do Matrimônio, deixando de lado a procriação, e modificou o fim secundário da ajuda mútua no que eles chamam hoje de “sociedade de amor”. Esse casamento feito de amor sentimental, quando não carnal, onde ter filhos ou não ter seria uma opção do casal, não é o Matrimônio católico sempre ensinado pela Igreja.
O resultado desses 50 anos de falsificação da família é o que vemos hoje, a destruição quase completa da noção natural de família. É a esta falsificação que os bispos conservadores querem defender ao exigirem de Francisco que mantenha a doutrina do Vaticano II.
O verdadeiro retorno deve ser para a doutrina tradicional da Igreja de sempre, que no caso do Matrimônio e da família, está magistralmente assentada na encíclica Casti Conubii, do papa Pio XI, de 31 de dezembro de 1930.
Em vez de lutarem pela Tradição católica, os bispos se contentaram em lutar por um texto sinodal menos agressivo, e chegaram onde, de fato, os mais afoitos queriam que chegassem: a um texto dúbio, facilmente interpretado por conservadores e por progressistas ao seu bel prazer, e às portas abertas para que cada padre faça o que bem entende na distribuição da comunhão a casais de divorciados.
Vemos tudo recomeçar com o futuro Sínodo da Amazônia. O texto inicial da CNBB é todo marcado pela teologia da libertação. Agride, força, leva aos extremos a análise da situação, para concluir: “Junto aos povos do nosso Regional, sonhamos com uma Igreja ousada, dialogal, inclusiva, pobre, solidária, mística, em saída.” (Carta da Assembleia Pré-Sinodal – dez 2018)
Mais adiante mostra seu objetivo: “Uma Igreja que insiste na ministerialidade, com os ministérios existentes, promovendo o diaconato permanente e diaconisas, o ministério da presidência eucarística, para homens e mulheres, e os ministérios a partir das culturas locais.”
Em outras palavras, querem promover o sacerdócio das mulheres, mas vão se contentar com diaconisas, para uma primeira etapa.
A Outra, essa igreja deformada de Vaticano II, segue seu caminho de heresia. Mas mesmo para ela está chegando o tempo da velhice, da caduquice que atinge tudo que é formado pelo pecado.
Dom Lourenço Fleichman
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