Posição do Arcebispo Marcel Lefebvre sobre a Nova Missa e o Papa

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Posição do Arcebispo Marcel Lefebvre sobre a Nova Missa e o Papa

Posição do Arcebispo Marcel Lefebvre sobre a Nova Missa e o Papa

No decorrer destes dez anos tive a oportunidade de responder muitas vezes a perguntas que são muito graves. Me esforcei sempre em permanecer dentro do espírito da Igreja, conforme seus princípios teológicos que expressam sua fé e sua prudência pastoral manifestados dentro da teologia moral e através da experiência de sua história.

Creio poder dizer que não mudei de opinião sobre estes temas e que este pensamento é afortunadamente o da grande maioria dos sacerdotes e fiéis dependentes da Tradição infalível da Igreja.

Certamente, esta linhas são insuficientes para fazer um estudo exaustivo destes problemas. Mas se trata antes que tudo de expor claramente conclusões de forma a não se equivocar sobre as orientações e pensamento da Fraternidade Sacerdotal São Pio X.

Sobre a Nova Missa

A respeito da Nova Missa destruamos imediatamente esta ideia absurda: se a Nova Missa é válida, logo se pode participar. A Igreja sempre proibiu os fiéis de assistir às Missa dos cismáticos e dos hereges, ainda se elas fossem válidas.

É evidente que não se pode participar de Missas sacrílegas, nem de Missa que ponham nossa fé em perigo.

É fácil pois demonstrar, tal como ela foi formulada pela Comissão da Liturgia, que a Nova Missa com todas as autorizações dadas pelo Concílio de uma forma oficial, e com todas as explicações de Dom Bugnini, apresenta uma aproximação inexplicável à teologia e ao culto dos protestantes.

Não aparecem muito claros e até com contraditórios, os dogmas fundamentais da Santa Missa, que são os seguintes:

  • somente o Sacerdote é o único ministro;
  • verdadeiro sacrifício, uma ação sacrifical;
  • a Vítima é Nosso Senhor Jesus Cristo presente na Hóstia sob as espécies de pão e vinho com seu corpo, seu sangue, sua alma e sua divindade;
  • é sacrifício propiciatório;
  • o Sacrifício e o Sacramento se realizam com as palavras de Consagração e não com as palavras que precedem ou seguem.

Basta enumerar algumas das novidades para demonstrar a aproximação aos protestantes:

  • o altar transformado em mesa, sem a ara;
  • a Missa diante do povo, em língua vernácula, em voz alta;
  • a Missa tem duas partes: a Liturgia da Palavra e a da Eucaristia;
  • os vasos sagrados vulgares, o pão fermentado, a distribuição da Eucaristia por leigos, nas mãos;
  • o Sacrário escondido;
  • as Leituras lidas por mulheres;
  • a Comunhão dada por leigos.

Todas essas novidades estão autorizadas. Pode-se pois dizer sem nenhum exagero que a maioria destas Missas são sacrílegas e que diminuem a fé, pervertendo-a. A dessacralização é tal que a Missa se expõe a perder seu caráter sobrenatural, “seu mistério de fé”, para converter-se nada mais que num ato de religião natural.

Estas Missas novas não somente não podem ser motivo de uma obrigação para o preceito dominical, senão que além disso com relação a elas há que seguir as regras da Teologia moral e do Direito Canônico, que são as da prudência sobrenatural com relação à participação ou à assistência a uma ação perigosa para nossa fé ou eventualmente sacrílega.

Deve-se dizer então que todas essas Missas são inválidas? Desde que existem as condições essenciais para a validez, ou seja, a matéria, a forma, a intenção e o sacerdote validamente ordenado, não se pode afirmar o contrário.

As orações do Ofertório, do Cânon e da Comunhão do Sacerdote que circundam a Consagração são necessárias à integridade do Sacrifício e do Sacramento, mas não a sua validez. O Cardeal Mindszenty na prisão, escondido de seus carcereiros, pronunciava as palavras da Consagração sobre um pouco de pão e vinho para alimentar-se do Corpo e Sangue de Nosso Senhor; certamente realizou o Sacrifício e o Sacramento.

À medida que a fé dos sacerdotes se corrompa e que não tenham mais a intenção que põe a Igreja (porque a Igreja não pode mudar de intenção), haverá menos Missas válidas. A formação atual não prepara os seminaristas para cumprir com a validez das Missas. O Sacrifício propiciatório da Missa não é mais o fim essencial do Sacerdote. Nada mais decepcionante e triste que ouvir os bate-papos ou comunicados dos Bispos sobre a vocação, a raiz de uma ordenação sacerdotal. Já não sabem o que é um Sacerdote.

Para julgar a falta subjetiva de aqueles que celebram a Nova Missa e dos que assistem, devemos aplicar a regra de discernimento dos espíritos segundo as diretivas da teologia moral e pastoral. Devemos atuar sempre como médicos de almas e não como juízes e verdugos, como estão tentados a fazer quem está animado por um zelo amargo e não pelo verdadeiro zelo. Que os jovens sacerdotes se inspirem nas palavras de São Pio X em sua primeira encíclica e nos numerosos textos de autores espirituais como os de Dom Chautard: “A alma de todo apostolado”, Garrigou-Lagrange no II tomo de “Perfeição cristã e contemplação”, e Dom Marmion em “Cristo, ideal do Monge”.

Sobre o Papa

Passemos à segunda parte não menos importante. Temos realmente um Papa ou um intruso na sede de Pedro?

Felizes os que viveram e morreram antes de fazer-se essa pergunta! Há que reconhecer que o Papa Paulo VI causou e ocasionou um sério problema à consciência das católicos. Sem indagar nem conhecer sua culpabilidade na terrível demolição da Igreja sob seu Pontificado, não se pode deixar de reconhecer que acelerou as causas em todas as ordens. Alguém pode se perguntar como um sucessor de Pedro pôde em tão pouco tempo causar mais males à Igreja que a revolução de 1789?

Fatos precisos como as assinaturas estampadas no artigo VII da Instrução concernente ao Novus Ordo Missae, como também o documento da “Liberdade Religiosa” são escandalosos e dão ocasião para que algumas pessoas afirmem que esse Papa era herético e que por sua heresia deixou de ser Papa.

A consequência deste fato seria que a maioria dos cardeais atuais não o seriam e além disso seriam inaptos para a eleição de outro Papa. Os Papas João Paulo I e João Paulo II não teriam sido então eleitos legitimamente.

É então inadmissível rezar por um Papa que não o é e conversar com aquele que não tem nenhum título para sentar na cadeira de Pedro. Como diante do problema da invalidez da nova missa, aqueles que afirmam que não há Papa simplificam demasiado os problemas. A realidade é mais complexa.

Se alguém se põe a perguntar se um Papa pode ser herege descobre que o problema não é tão simples como se crê. Sobre este tema, o estudo muito objetivo feito por Xavier da Silveira mostra que um bom número de teólogos pensa que o Papa pode ser herege como doutor privado, mas não como doutor da Igreja Universal. É necessário, então, examinar em que medida o Papa Paulo VI quis empenhar sua infalibilidade nesses casos diversos onde ele firmou textos próximos da heresia, senão heréticos.

Pudemos pois observar nesses dois casos, como em muitos outros, que o Papa Paulo VI atuou muito mais como liberal que aderindo à heresia. Já que, quando se assinalava-lhe o perigo que corria, entregava um texto contraditório, agregando uma fórmula contrária ao que ele afirmava na anterior, ou escrevendo uma fórmula equívoca, o que é próprio do liberal, o qual é incoerente por natureza.

O liberalismo de Paulo VI, reconhecido por seu amigo o cardeal Daniélou, é suficiente para explicar os desastres de seu Pontificado. O Papa Pio IX, particularmente, falou muito sobre o católico liberal, que ele considerava como destruidor da Igreja. O católico liberal é uma pessoa de dupla face, em contínua contradição. Quer manter-se católico e ao mesmo tempo tem o afã de agradar ao mundo. Afirma sua fé com medo de parecer demasiado dogmático e atua de fato como os inimigos da fé católica.

Um Papa pode ser liberal e permanecer Papa? A Igreja sempre admoestou severamente os católicos liberais. Não excomungou a todos. Também aqui devemos permanecer dentro do espírito da Igreja. Devemos rejeitar o liberalismo, venha de onde venha, porque a Igreja sempre o condenou com severidade por ser contrário ao Reinado de Nosso Senhor e em particular ao Reinado Social.

O afastamento dos cardeais de mais de 80 anos e as convençõezinhas que prepararam os dois últimos Conclaves não tornam inválida a eleição desses Papas: inválida, é afirmar muito, mas, eventualmente duvidosa. Mas a aceitação de fato posterior à eleição e unânime dos cardeais e do clero romano basta para convalidar a eleição. Esse é a opinião dos teólogos.

A questão da visibilidade da Igreja é em demasia necessária para sua existência, como para que Deus possa omiti-la durante décadas.

O argumento dos que afirmam a inexistência do Papa põe a Igreja numa situação confusa. Quem nos dirá onde está o futuro Papa? Como poderia ser designado Papa onde não há cardeais? Este espírito é um espírito cismático, ao menos para a maioria dos fiéis que se afiliaram a seitas verdadeiramente cismáticas como a do Palmar de Tróia, a da Igreja Latina de Toulouse, etc.

Nossa Fraternidade rejeita absolutamente compartilhar esses raciocínios. Queremos permanecer aderidos a Roma, ao sucessor de Pedro, mas rejeitamos seu liberalismo por fidelidade a seus Antecessores. Não temos medo de dizê-lo respeitosamente mas firmemente, como São Paulo diante de São Pedro.

Por isso, longe de rejeitar as orações pelo Papa, aumentamos nossas rezas e suplicamos para que o Espírito Santo o ilumine e o fortaleça na manutenção e defesa da fé.

Por isso jamais rejeitei ir a Roma a seu chamado ou ao chamado de seus representantes. A Verdade deve afirmar-se em Roma mais que em qualquer outro lugar. Pertence a Deus quem a fará triunfar.

Como consequência, não se pode tolerar nos membros, sacerdotes, irmãos, irmãs, oblatos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, que recusem rezar pelo Papa e que afirmem que todas as Missas do Novus Ordo Missae são inválidas.

Certamente sofremos por esta incoerência contínua, que consiste em elogiar todas as orientações liberais do Vaticano II e ao mesmo tempo tratar de atenuar seus efeitos.

Mas isto nos deve incitar a rogar e a manter firmemente a Tradição, mas nem por isso afirmar que o Papa não é Papa.

Para terminar devemos ter o espírito missionário que é o verdadeiro espírito da Igreja, fazer tudo pelo Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a divisa de nosso Santo Patrono São Pio X: “Instaurare omnia in Christo”, restaurar tudo em Cristo, e sofrer como Nosso Senhor em sua Paixão para a salvação das almas, para o triunfo da Verdade.

“In hoc natus sum, disse Nosso Senhor a Pilatos, ut testimonium perhibeam veritati”.
“Eu nasci para dar testemunho da Verdade”.

Retirado do Livro “La Misa Nueva – Mons. Marcel Lefebvre” Editora ICTION, Buenos Aires 1983. Disponível em: https://www.fsspx.com.br/posicao-do-arcebispo-marcel-lefebvre-sobre-a-nova-missa-e-o-papa/

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