Falsa Devoção à Divina Misericórdia propagada pela Irmã Faustina
Apesar de ser uma devoção conhecida e praticada nos tempos atuais, é algo que não deve ser praticado.
O Papa Pio XII colocou essa devoção, incluindo aparições e escritos da Irmã Faustina no Librorum Prohibitorum Index (Índice de Livros Proibidos) considerando que seu conteúdo levaria os católicos ao erro. Somente depois do Vaticano II é que esta falsa devoção foi reabilitada, pelo Papa João Paulo II, em todo o mundo.
No diário escrito pela Irmã Faustina Kowalski, pode-se encontrar vários erros doutrinários que demonstram que esta devoção e aparições não vêm de Deus.
Presunção e falta de humildade
A característica de qualquer místico verdadeiro que recebeu graças sobrenaturais é sempre de humildade profunda, um sentimento de indignidade e conscientização da extensão de suas misérias. No entanto, esta humildade está estranhamente faltando no diário da Irmã Faustina.
Em 2 de outubro de 1936, por exemplo, afirma que supostamente "Jesus" falou estas palavras a ela:
"É por isso que eu estou unindo-me a você tão intimamente como com nenhuma outra criatura." (§707, p. 288).
Isso dá toda a aparência de ser uma pretensão de ser mais unida a Jesus do que ninguém, até mesmo a Virgem Maria, e certamente mais do que todos os outros santos.
A criatura que está mais unida à Deus é a Santíssima Virgem Maria que superou em amor e virtude até os Anjos. Portanto, essa fala que Faustina se refere, não é de Jesus, não veio do Céu.
Em abril de 1938, Irmã Faustina leu a canonização de Santo André Bobola e foi preenchida com lágrimas e anseios de que a sua congregação pudesse ter seu próprio santo. Em seguida, ela afirma o seguinte:
"E o Senhor Jesus me disse: Não chores. Você é essa santa". (§1650, p. 583).
Estas são palavras que com toda certeza nenhum verdadeiro santo iria afirmar, mas sim sua miséria e indignidade em merecer qualquer coisa.
Esta presunção em seus escritos não é isolada. Ela elogia a si mesma em várias ocasiões através das palavras supostamente proferidas por Jesus. Veja esta locução interior, por exemplo:
"Amada Pérola de Meu Coração, eu vejo seu amor tão puro, mais puro do que o dos anjos, e tanto mais porque você continua lutando. Por sua causa eu abençoo o mundo." (§1061, p. 400).
São coisas ditas supostamente por Nosso Senhor a ela que não cultivariam humildade, mas sim sua vaidade.
É, portanto, nada surpreendente que a Irmã Faustina tenha alegado ser isenta dos Julgamentos tanto o Particular quanto o Geral.
Em 4 de fevereiro de 1935, ela já dizia ouvir uma voz em sua alma:
"De hoje em diante, não tema o julgamento de Deus, pois você não será julgada" (§374, p. 168).
Na página 168 de seu diário, é dito:
"No momento em que me ajoelhei para negar a minha própria vontade, tal como o Senhor pedira-me para fazer, ouvi esta voz na minha alma: “De agora em diante, não temas o julgamento divino, pois não serás julgada.” (De 4 de Fev. de 1935)
Na página 176, "Jesus" diz a ela:
"És uma doce uva e um cacho escolhido; quero que o sumo que flui dentro de ti seja partilhado com os outros."
Na página 247, «Jesus» diz a ela:
"Saiba também disto, Minha filha: Todas as criaturas, ora cientes disso ou não, quer queiram quer não, sempre cumprem a minha vontade…
Se quiseres, filha minha, criarei neste instante um novo mundo, mais bonito que este, no qual viverás para o resto da tua vida."
Na página 288, «Jesus» disse:
"É por isso que uno-me a ti de uma forma tão íntima que não é equiparável a qualquer outra."
Na página 400, «Jesus» disse:
"Observo o teu amor tão puro, mais puro que aqueles dos anjos, e mais ainda porque continuas a combater. Por ti abençoarei o mundo."
Na página 417, lemos que "Jesus" supostamente fez a seguinte introdução à Irmã Faustina:
"Diz ao Superior Geral para contar contigo como a irmã mais fiel na Ordem."
Na página 643, lemos que a Irmã Faustina disse após receber a comunhão:
"Jesus, transformai-me noutra hóstia! (…)
Sois grande e todo-poderoso; está em vosso poder conceder-me tal favor.
E o Senhor respondeu-me: “Tu és uma hóstia viva.”
Na página 191, "Jesus" diz a ela:
"Por ti, reterei a minha mão que pune; por ti abençoarei a Terra."
Erros doutrinários
O conteúdo desta contra-devoção vai totalmente em desencontro com a Doutrina Católica e não há conformidade com o exemplo da santidade de vida de todos os santos da Igreja.
Há muita ênfase na misericórdia de Deus como que para excluir a Sua justiça. Nossos pecados e a gravidade da ofensa que eles infligem em Deus são deixados de lado como sendo de pouca importância, o aspecto da reparação do pecado é omitido ou obscurecido.
A verdadeira imagem da misericórdia de Deus é o Sagrado Coração de Jesus, atravessado pela lança, coroado de espinhos, gotejando o Preciosíssimo Sangue. O Sagrado Coração de Jesus exige uma devoção de reparação, conforme os verdadeiros Papas sempre solicitaram.
No entanto, este não é o caso da falsa devoção da Divina Misericórdia. A imagem não tem Coração. É um coração sem coração, sem reparação, sem o preço de nossos pecados sendo claramente evidente. É isso que faz com que a devoção seja perniciosa às nossas almas.
Este não é o espírito católico. Devemos fazer a reparação pelos nossos pecados e pelos pecados de todo o mundo, como o Sagrado Coração de Jesus pediu repetidamente. É o arrependimento dos nossos pecados, as penitências, a renovação da nossa consagração ao Sagrado Coração e a devoção ao Imaculado Coração de Maria que vão trazer a conversão dos pecadores.
É desta forma que podemos cooperar para o Seu Reino de Amor Misericordioso, porque esse é o reconhecimento perfeito da santidade infinita da Divina Majestade e completa submissão a Suas legítimas demandas. Misericórdia só significa algo quando entendemos o preço da nossa Redenção.
Na página 208, "Jesus" supostamente falou à irmã Faustina sobre a Devoção da Divina Misericórdia e supostamente instruiu-a a respeito daquilo que deve ser dito nas contas do Rosário:
«Essa oração [a Devoção da Divina Misericórdia] irá servir para apaziguar a minha ira. A recitarás por nove dias, nas contas do Rosário, da seguinte maneira:
Primeiro, dirás um Pai Nosso, uma Ave Maria e o Creio em Deus. Então, nas contas do Pai Nosso, dirás as seguintes palavras:
“Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade do Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro.”
Nas contas da Ave Maria, dirás as seguintes palavras:
“Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro.”
Em conclusão, recitarás três vezes as seguintes palavras:
“Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro.” (Sábado, 14 de Set., 1935)
Como poderia Deus revelar uma nova devoção a ser rezada nas contas do Rosário pouco tempo após a Sua Mãe ter vindo à Fátima e em Suas aparições operar um portentoso milagre para revelar, entre outras coisas, a necessidade do Rosário?
A instrução específica dada à Irmã Faustina para a Devoção da Divina Misericórdia, de que essa deve ser rezada nas contas do Rosário, é claramente o substituto do demônio para o Rosário.
Tal devoção tornou-se popular no meio dos "católicos" carismáticos e até mesmo sem perceber, sendo utilizada como um substituto do Rosário.
A Devoção da Divina Misericórdia é uma falsificação astuta que, sendo ela tradicional em muitos aspectos, serve o propósito do demônio de conseguir que esta contra-devoção seja inserida nos círculos conservadores, os quais dela se serviriam como substituto do Rosário.
Levando em consideração todas essas coisas, a devoção da Divina Misericórdia é algo a ser evitado pelos católicos. Devem ao invés fortificar a oração diária do Rosário e rezar como santa devoção todas as sextas-feiras do ano a Via-Sacra.
A devoção da divina misericórdia de Irmã Faustina não é católica e já era proibida
A devoção da Divina Misericórdia propagada por Ir. Faustina já era definitivamente proibida pela Igreja Católica. O Diário da Irmã Faustina Kowalska foi colocado pela Igreja no índice de livros proibidos. Essa foi a decisão do Papa Pio XII. O Santo Padre considerou o trabalho da Irmã Faustina como um perigo contra a Fé Católica por causa das "aparições" e mensagens que ela recebeu.
Tradução da notificação:
Sagrada Congregação do Santo Ofício
Ata da Santíssima Congregação
Notificação
Faz-se notar que a Suprema Sagrada Congregação do Santo Ofício, tendo examinado as supostas visões e revelações da Irmã Faustina Kowalska, do Instituto Nossa Senhora da Piedade, falecida em 1938, na Cracóvia, resolveu da seguinte forma:
1 – dever-se proibir a difusão das imagens e dos escritos que apresentam a devoção da Divina Misericórdia “nas formas propostas pela mesma Irmã Faustina”;
2 – ser delegada à prudência dos Bispos o dever de remover as imagens acima referidas, que eventualmente tivessem já sido expostas ao culto.
Do Palácio do Santo Ofício, 6 de março de 1959.
Apoiado nisso, por ordem do Santo Padre, o Santo Ofício, reunido em sessão plenária em 19 de novembro de 1958, declarou o seguinte:
1. O aspecto sobrenatural das revelações feitas a Ir. Faustina não é evidente.
2. Nenhuma festa da Divina Misericórdia deve ser estabelecida.
3. É proibido divulgar as imagens e escritos que propagam essa devoção de acordo com a forma como foi recebida pela Ir. Faustina. Totalmente contrárias a esta decisão da Igreja são as palavras de "Jesus" no Diário: "Prometo que a alma que venera essa imagem não perecerá" (nº 48, diário).
Um segundo decreto do Santo Ofício, realizado em 6 de março de 1959, confirmou o exposto, pedindo também aos bispos do mundo que ajam nessa direção. Esse ofício estava sob o controle direto do Papa e era responsável por manter a pureza da Doutrina Católica, protegendo-a de doutrinas falsas ou perigosas.
A razão dessa proibição se deve ao fato de o diário de Ir. Faustina colocar grande ênfase na Misericórdia de Deus, minimizando a realidade da Justiça Divina. A Igreja nunca permitiu que a misericórdia divina fosse adorada sem referência explícita à sua justiça. Em Deus você não pode separar Sua misericórdia de Sua justiça.
Santo Afonso Maria de Ligório, doutor da Igreja nos ensina:
Avisa-nos o Senhor:
«Não digas: são grandes as misericórdias de Deus; por muitos pecados que eu cometa, obterei o perdão por um só ato de contrição» (Eclo 5, 6).
Não digas assim, avisa-nos Deus; e por quê? Porque a sua misericórdia e a sua justiça vão sempre juntas; e a sua indignação se inflama contra os pecadores impenitentes, que amontoam pecados sobre pecados e abusam da misericórdia para mais pecares:
A sua misericórdia e a sua ira chegam rapidamente, e a sua indignação vira-se contra os pecadores. — A misericórdia de Deus é infinita, mas os atos dessa misericórdia são finitos. Deus é misericordioso, mas também é justo. «Eu sou justo e misericordioso», disse um dia o Senhor a Santa Brígida; «mas os pecadores julgam-me somente misericordioso».
Não queiramos, escreve São Basílio, considerar só uma das faces de Deus.
E o Bem-aventurado João Ávila acrescenta que tolerar os que abusam da misericórdia de Deus, para mais o ofenderem, não seria mais ato de misericórdia, mas falta de justiça. A misericórdia é prometida ao que teme a Deus, não ao que dela abusa: Et misericordia eius timentibus eum (Luc 1, 50).
A justiça ameaça os pecadores obstinados; e assim como Deus, observa Santo Agostinho, não falta às suas promessas, tão pouco faltará a suas ameaças.
Meu irmão, escuta o belo conselho que te dá Santo Agostinho: Post peccatum spera misericordiam. Depois do pecado, confia na misericórdia de Deus; mas antes do pecado, receia a sua terrível justiça: Ante peccatum pertimesce iustitiam. Sim, porque é indigno da misericórdia de Deus quem dela abusa para o ofender.
Aquele que ofende a justiça, diz Afonso Tostato, pode recorrer à misericórdia; mas a quem poderá recorrer o que ofende a própria misericórdia?
Seria zombar de Deus querer continuar a ofendê-lo e desejar depois o paraíso. Avisa-nos, porém, São Paulo, que Deus não consente que zombemos dele: Deus non irridetur (Gal 6, 7).
Nossos pecados e a seriedade da ofensa cometida, bem como o dano causado por eles e suas consequências, não podem ser ignorados quando a misericórdia de Deus é buscada. Tem que haver humildade, arrependimento, desejo de reparar e propósito de emendar toda vez que alguém se aproxima de Deus pedindo perdão por nossos pecados e ao mesmo tempo que apelamos à sua infinita bondade. Essas condições que representam o temor de Deus são condições indispensáveis para obter a misericórdia de Deus (a Virgem Maria diz claramente em sua canção do Magnificat).
Arrependimento, reparação e penitência são condições para obter a misericórdia e o perdão de Deus
Essas condições são completamente ignoradas na devoção proposta pela Irmã Faustina. Esse arrependimento, reparação e penitência é precisamente o que a Bem-aventurada Virgem Maria insistiu tanto em suas grandes aparições de La Salette, Lourdes e Fátima como uma condição indispensável, a fim de obter a misericórdia e o perdão de Deus.
A imagem tradicional da misericórdia de Deus, juntamente com sua justiça, sempre foi o Sagrado Coração de Jesus. Aí, seu Coração Sagrado, trespassado por uma lança, coroado de espinhos e derramando seu Sangue Precioso, sempre nos mostra, primeiro, que devemos abandonar o pecado, que devemos nos arrepender e reparar.
A imagem do Sagrado Coração nos lembra através das dores de sua paixão a seriedade do pecado e o preço que ele teve que pagar na cruz para nos perdoar; ali, suas feridas sagradas nos pedem explicitamente que não o ofendamos mais. Essas disposições são o que nos leva a receber o infinito Amor de Deus e seu perdão. Nunca devemos nos separar em Jesus Cristo da sua paixão ou da sua cruz. A misericórdia vem da cruz e nossa participação nela. Você não pode ver a misericórdia separada da cruz, da justiça, do preço de nossa redenção.
Falsos ensinamentos e muito perigosos
No diário de Ir. Faustina há muitas alusões de que no tempo presente é um tempo de misericórdia e que basta confiar em sua misericórdia para ser salvo. Ele diz que o tempo da Justiça será até o fim ou mesmo após a morte. Esses ensinamentos são falsos e muito perigosos. Atualmente, há misericórdia, mas está condicionada ao nosso sincero arrependimento; Se não houver arrependimento, só haverá justiça. A misericórdia é para o presente e para a eternidade. A justiça é também para o presente e para a eternidade. Cabe a nós o que nos vai acontecer. Não basta confiar apenas na misericórdia para salvar-se.
Essa falsa "confiança", que de fato deveria ser chamada de "presunção" (pecado contra a esperança), é o que resume a devoção que a Irmã Faustina prega: "Jesus, eu confio em vós!". É o título que caracteriza a imagem da Divina Misericórdia. Este é o típico ensino protestante presunçoso que não exige do pecador arrependimento ou emenda.
Para o protestante "basta ter fé, confiar em Jesus" para ser salvo. Confiar sem arrependimento não é suficiente para salvar-nos.
Na página 101, diz:
“A humanidade não encontrará paz até que não se dirija com confiança à minha misericórdia.” (Nº 300, Diário da Irmã Faustina).
Na página 187, diz:
"A alma que confia na minha misericórdia não perecerá" (nº 723, diário de Ir. Faustina).
Na página 118, diz:
“No momento em que me ajoelhei para cruzar minha própria vontade, como o Senhor me havia ordenado, ouvi esta voz em minha alma: 'A partir de hoje não tenha medo do julgamento de Deus, pois você não será julgada.'” (Nº 374, Diário de Ir. Faustina, 4 de fevereiro de 1935)
A estranha promessa feita a Ir. Faustina de se libertar de todos os castigos temporários devidos ao pecado, para aqueles que rezam a Coroa às 15:00, é um sinal dessa falsa misericórdia.
É a presunção de obter perdão mesmo se houver pecado e, embora não haja arrependimento, mesmo que não haja reparação. A Igreja, em sua Tradição, apenas concede esse privilégio, através da indulgência plenária, àqueles que não tem qualquer apego, nem mesmo ao pecado venial, ou seja, aos arrependidos e emendados. Este é um ensinamento infalível e constante que nossa Mãe Igreja que nos ensina há 20 séculos. Porém, no diário da Ir. Faustina diz: "Mesmo o pecador mais inveterado, se ele orar a Coroa da Divina Misericórdia apenas uma vez, receberá os agradecimentos da Minha infinita misericórdia" (Nº 687, Diário da Irmã Faustina).
Em seu diário, há uma profunda falta de humildade na irmã Faustina, aquele sentimento de indignidade, aquele sentimento da seriedade do pecado e sua contínua confissão e dor; disposições dos grandes místicos e videntes de Deus. Jesus Cristo aos seus filhos que os ama os humilha a dar mais frutos em virtude e santidade. Aquele "Jesus" de que fala Faustina se parece mais com o tentador do deserto. Ela escreve o seguinte em seu diário:
Na página 185, ela disse:
"Agora eu sei que você não me ama pelas graças ou dons, mas porque Minha vontade lhe é mais querida do que a vida. É por isso que me uno a ti tão estreitamente quanto qualquer outra criatura” (nº 707, diário de Ir. Faustina).
Na página 355, diz:
“Minha alma foi invadida por um grande desejo de que também houvesse uma santa em nossa casa e eu caí em prantos como uma criança pequena. E o Senhor Jesus me disse: Não chores, você é.” (nº 1650, diário da irmã Faustina).
Na página 259, lemos que "Jesus" disse a Faustina:
"Diga ao Superior Geral que conte com você como a filha mais fiel da Ordem". (Diário nº 1130 de Ir. Faustina).
Ir. Faustina orou assim:
“Oh Jesus, sei perfeitamente que posso ser um sacerdote e pregador missionário, posso morrer em martírio.” (nº 302, Diário de Ir. Faustina).
Não surpreende que João Paulo II tenha promovido essa devoção quando sabemos que ele também ensina, em sua encíclica "Dives in Misericordia", esse conceito de falsa misericórdia. Em sua teologia do "Mistério Pascal", ele ignora qualquer consideração sobre a seriedade do pecado e a necessidade de fazer penitência como uma satisfação à Justiça Divina. Ele nega que a Santa Missa seja um sacrifício expiatório e ignora a necessidade de obter indulgências para mitigar o castigo divino:
“Misericórdia em si mesma, como perfeição de Deus infinito também é infinita. Infinita, porque inesgotável é a disposição do Pai em receber os filhos pródigos que voltam para casa. A prontidão e a força do perdão são infinitas.” (Dives in Misericordia No. 13).
Para ele, como Deus é "infinitamente" misericordioso, nossos pecados não importam, nem precisamos nos preocupar com as consequências deles. Este não é um espírito católico. Todos e cada um, por outro lado, são obrigados a "reparar os nossos pecados e os de todo o mundo", como o Sagrado Coração de Jesus ensinará a Santa Margarita Maria de Alacoque. Isso faz parte do grande mistério da cruz ao qual devemos nos associar para ajudar Cristo, Nosso Senhor, a salvar almas.
A misericórdia divina é condicional
Essa prontidão de Deus é infinita, mas condicional. Na prática, devido às nossas disposições imperfeitas, a aplicação da misericórdia de Deus a cada pessoa será apenas condicionada e finita. É importante notar aqui que os atributos de Deus que fluem de sua Essência Divina são sempre infinitos, como Bondade, Poder, Amor, etc.
Os seres humanos não são infinitos na criação, então não se pode falar de uma criação infinita. O mesmo vale para a misericórdia. Misericórdia, como o nome indica, significa a compaixão de Deus pelos miseráveis, a compaixão por quem se reconhece infeliz por ter um espírito humilde e arrependido, como nas parábolas do Evangelho do publicano ou do filho pródigo; lá eles mostraram arrependimento antes de receber misericórdia.
É por isso que Deus exerce misericórdia e compaixão para conosco apenas na proporção de nossas disposições, nossa humildade, nossa fé, nosso arrependimento. É por isso que Nosso Senhor diz:
"Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles obterão misericórdia" (Mateus 5,7).
Nosso Senhor está aqui condicionando sua misericórdia. A misericórdia nunca é exercida por Deus sem relação conosco. A misericórdia seria então o mais gigante possível, proporcional à nossa humildade e arrependimento. Por esse motivo, não encontraremos nas Escrituras Sagradas qualquer menção ou uso do termo "misericórdia infinita" de Deus para com os homens.
É usado continuamente por João Paulo II e Ir. Faustina, e pela nova evangelização desde o Concílio Vaticano II. A Tradição católica de misericórdia é geralmente descrita pelo termo "misericórdia eterna", ou seja, "a misericórdia de Deus se estende de geração em geração para aqueles que o temem" (Magnificat da Bem-Aventurada Virgem Maria, Lucas. 1,46-55).
Porém, Ir. Faustina na página 181, diz:
"Ouvi estas palavras: Você dará o testemunho de Minha infinita misericórdia". (Diário nº 689 de Ir. Faustina).
Também vemos com muita dor que a Coroa da Divina Misericórdia foi usada como substituto do Santo Rosário. Deus revelaria uma nova devoção que é dita nos relatos do Rosário logo após Sua Mãe aparecer em muitos lugares por oito séculos, e ultimamente em Fátima, para realizar um poderoso milagre para revelar, entre outras coisas, a necessidade do Rosário?
A instrução específica dada à Irmã Faustina sobre como realizar a Devoção à Divina Misericórdia é que ela deve ser recitada usando os mesmos relatos do Rosário. Isso levou muitas pessoas a substituir a oração do Santo Rosário pela da Divina Misericórdia.
Segundo o diário da Irmã Faustina, "Jesus" concede à Coroa as mesmas promessas da salvação (e muito mais!) apreciado pelo Santo Rosário. Isso não é assim! De fato, o Santo Rosário é insubstituível, uma vez que foi expressamente solicitado por Deus e pela Igreja por 8 séculos sem interrupção.
Na página 139, em seu diário ela diz:
“Esta oração é para aplacar a minha ira, você a rezará por nove dias com um rosário comum” (nº 476).
Convite ao sacrilégio
Outro problema muito sério, que de fato é um “convite” para cometer sacrilégio, é a promoção da prática da comunhão na mão, que supostamente é promovida por Nosso Senhor no diário. A Hóstia é transportada para as mãos da irmã Faustina várias vezes; Nosso Senhor supostamente diz que quer descansar em suas mãos.
Este foi, de fato, um fundamento "divino" que o próprio João Paulo II usou para aprovar a Comunhão na mão nas liturgias modernas. Quando sabemos com certeza sobre a Tradição que nem mesmo a Santíssima Virgem foi autorizada a tocar a Sagrada Hóstia. [1]
Na página 29 do Diário da Irmã Faustina, ela diz:
“… e a Hóstia deixou o tabernáculo e descansou em minhas mãos, e eu felizmente o coloquei no tabernáculo. Isso foi repetido novamente, e eu fiz o mesmo com Ela, porém repetido pela terceira vez ... »
Na página 68 do Diário, Faustina diz:
“Quando o sacerdote se aproximou novamente, dei-lhe a Hóstia para colocá-lo no cálice, ...da Hóstia, ouvi estas palavras: "Eu queria descansar em suas mãos, não apenas em seu coração". (N. 60). “... E a Hóstia deixou o tabernáculo e descansou em minhas mãos, e eu alegremente a coloquei no tabernáculo. Isso foi repetido novamente, e eu fiz o mesmo com Ela, porém repetido pela terceira vez ... »
Na página 23 do livro "A Misericórdia Divina na minha alma (O Diário da Irmã Faustina)", é dito:
"… e a hóstia saiu do tabernáculo e pousou nas minhas mãos, e eu, com alegria, coloquei-a de volta no tabernáculo. O mesmo sucedeu-se uma segunda vez, e eu de igual forma agi. E, por surpresa, aconteceu uma terceira vez…"
Na página 89 do livro "A Misericórdia Divina na minha alma (O Diário da Irmã Faustina)", é dito:
"Quando o padre abordou-me uma vez mais, levantei a hóstia para que ele a voltasse a pôr no cálice, porque, quando eu pela primeira vez recebi Jesus, não podia falar antes de consumir a hóstia, e portanto não lhe podia dizer que a hóstia tinha caído ao chão. Mas, enquanto a hóstia permaneceu nas minhas mãos, senti tal poder de amor, que pelo resto do dia não consegui comer nem estar no total controlo de mim mesma. Ouvi as palavras vindas da hóstia: “Desejei permanecer em tuas mãos, não apenas no teu coração."
Efeitos da falsa devoção
A devoção da misericórdia divina fez com que a Igreja se concentrasse na misericórdia no momento em que a humanidade está prestes a transbordar o cálice da justiça divina. O problema hoje é que o homem não teme a Deus e o ofende da maneira mais séria que já existiu. O que precisamos ouvir hoje é sobre a sua Justiça Divina..
O mesmo fez a Virgem de Fátima alertando sobre o inferno e punições divinas nos países e na Igreja se as pessoas "não se converterem" (o que não aconteceu). Ele disse que a devoção ao seu Imaculado Coração e a oração do Santo Rosário eram "os últimos meios que Deus deu ao mundo para que ele fosse convertido e salvo".
Perguntada à irmã Lúcia sobre o significado das palavras "os últimos remédios", ela respondeu: "Ele disse 'último', pois não haveria outro" (ou seja, o terço!").
A devoção da Divina Misericórdia era a falsa devoção e a mensagem perfeita para fazer as pessoas acreditarem que obteriam a misericórdia de Deus, mesmo que continuassem em seus pecados. Faustina insiste que sua misericórdia deve ser "adorada".
"Meu destino é adorar e glorificar a Divina Misericórdia" (nº 729, Diário da Irmã Faustina).
Na página 260, "Jesus" diz a ela:
"Pois muitas almas voltarão das portas do Inferno e irão fazer culto à Minha misericórdia."
Na página 374, "Jesus" disse:
"Se não adorarem a Minha misericórdia, perecerão por toda a eternidade."
Na página 382, "Jesus" disse:
"Desejo que a Minha misericórdia seja cultuada."
Conclusões
As afirmações supracitadas apresentam-nos vários problemas. O primeiro problema é a promoção da prática da Comunhão na mão, que é alegadamente promovida por Nosso Senhor. A hóstia transporta-se para as mãos dela várias vezes; Nosso Senhor supostamente diz que deseja repousar em suas mãos. Cremos que isto é uma artimanha diabólica para que a prática da Comunhão na mão fosse intelectualmente aceite de antemão, antes do Concílo Vaticano II.
Vemos também louvores desnecessários feitos à irmã. Muitas coisas ditas supostamente por Nosso Senhor a ela que não cultivariam humildade, mas sim a vaidade — que basicamente ela é a melhor coisa que há no mundo. Não cremos que Nosso Senhor alguma vez a instruiria a dizer ao seu superior que ela era a irmã mais fiel da Ordem. Nosso Senhor poderia dizê-lo ao superior, caso pretendesse que tal fato fosse conhecido.
A Devoção da Divina Misericórdia é centrada na misericórdia em tempos em que a humanidade estava à beira de transbordar o cálice da justiça divina. O problema naquela altura, e o de hoje, como é óbvio, era que o homem não temia a Deus e continuava a ofendê-lo. O que precisavam era de ouvir sobre a Sua justiça. Mas a devoção da Divina Misericórdia foi a falsa devoção e mensagem perfeita para fazer com que as pessoas cressem que iriam obter a misericórdia de Deus mesmo que continuassem nos seus pecados; até chega a instruir as pessoas a "cultuar" a Sua misericórdia.
Deus não revelaria uma nova devoção a ser dita nas contas do Rosário pouco tempo após a Sua Mãe ter vindo à Fátima operar um portentoso milagre para revelar, entre outras coisas, a necessidade do Rosário. A instrução específica dada à Irmã Faustina para a Devoção da Divina Misericórdia, de que essa deve ser rezada nas contas do Rosário, é claramente, cremos, o substituto do demónio para o Rosário. E temos visto tal prática a ser utilizada deste modo no caso de muitas almas. A Devoção da Divina Misericórdia é uma falsificação astuta que, sendo ela "tradicional" em muitos aspectos, serve o propósito do demónio de conseguir que esta contra-devoção seja inserida nos círculos conservadores, os quais dela se servirão como substituto do Rosário.
Considerando todas essas coisas juntas e apoiadas em obediência ao infalível Magistério da Igreja Católica e às terríveis consequências dessa falsa doutrina, falsa piedade e, finalmente, falsos meios de salvação, concluímos, de maneira inescapável, que o Diário de Ir. Faustina junto com Sua devoção à Divina Misericórdia que está incluída é algo proibido e que os católicos devem evitar. Devem ao invés rezar um Rosário extra ou as Estações da Cruz.
“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” (Mt 13,9)
Trechos adaptados de Dom Rafael Arizaga. Disponível em: https://www.sempercatholicam.com/2020/01/a-devocao-da-divina-misericordia-nao-e.html
Notas:
[1] Apesar de no primeiro século, ter sido usado um pano que foi colocado sobre as mãos. Uso removido por vários séculos devido ao perigo do sacrilégio, somente o sacerdote, Cristo, pelas mãos sacerdotais consagradas, é Quem Se entrega em alimento aos filhos. Dar comunhão é um ministério sacerdotal que nenhum leigo pode assumir.
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